segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

HOMILIA DO SR.BISPO NA CELEBRAÇÃO DOS 50 ANOS DAS PARÓQUIAS

Homilia de D. António Carrilho, Bispo do Funchal
 
na Celebração Diocesana dos 50 anos das Novas Paróquias
 
 
Sé do Funchal, 30 de Janeiro de 2011
 
 
Paróquias, comunidades cristãs vivas e apostólicas!
 
 
A Diocese do Funchal está em festa!
 
É pois, com imensa alegria, que saúdo as paróquias aqui representadas, vindas de longe e de perto, respondendo ao convite que a todas dirigi para a grande Assembleia Diocesana desta tarde. Saúdo, de modo especial, aquelas comunidades paroquiais que ao longo deste ano comemoram, festivamente, os 50 anos da sua criação.
 
Viestes com os pendões, estandartes, faixas e outros distintivos das vossas paróquias, tornando-as presentes neste espaço da nossa Catedral, igreja-mãe da Diocese, centro da comunhão diocesana, em redor do Bispo, Pastor do Povo de Deus, e do seu Presbitério.
 
Viestes em ritmo processional e em prece, testemunhando a alegria da fé, ao som das melodias das vossas festas e procissões, que as Bandas Filarmónicas, trazidas de cada Arciprestado, asseguraram, elevando o nosso espírito para Deus.
 
A Diocese do Funchal está em festa! Sede todos muito bem-vindos à nossa Catedral: excelentíssimas autoridades regionais e locais; sacerdotes, diáconos e seminaristas; religiosos, religiosas e outros membros de institutos de vida consagrada; e leigos, individualmente ou nas suas associações e movimentos. Sede muito bem-vindos todos quantos quisestes participar nesta grande celebração jubilar, de tão rico e profundo significado eclesial.
 
Um pouco de história
 
Para melhor compreender este significado é oportuno recordar alguns pontos da Mensagem Pastoral “Paróquia, Igreja em Missão”, que escrevi, com data de 24 de Novembro passado, a propósito dos 50 anos da criação das novas paróquias da Diocese, lembrando, em primeiro lugar, um pouco da sua história.
 
 
Na verdade, foi no dia 24 de Novembro de 1960, que o Bispo de então, D. David de Sousa, publicou um “Decreto sobre a actualização das Paróquias” da Diocese do Funchal, que entraria em vigor no dia 1 de Janeiro de 1961, precisamente há 50 anos.
 
As deliberações nele expressas corresponderam, como ele próprio escreveu, a um longo estudo e diálogo, em diversas instâncias eclesiásticas e civis, sobre “as condições topográficas, as distâncias e a dispersão da população” e “a necessidade de levar a Igreja ao meio dos núcleos populacionais, a fim de lhes tornar fácil o cumprimento dos deveres cristãos e de lhes poupar grandes e constantes sacrifícios em caminhadas.”
 
Como fruto deste “estudo sério e diligente”, D. David de Sousa houve por bem criar o Arciprestado de Câmara de Lobos, com as paróquias dos Concelhos de Câmara de Lobos e da Ribeira Brava, manter inalteradas 16 das 52 paróquias existentes e desmembrar as outras 36 em 50 novas paróquias, ficando assim a Diocese do Funchal com 102 paróquias, e estabelecendo-se para elas as respectivas sedes, limites e patronos.
 
Se, com efeito, algumas das novas paróquias não conseguiram implantar-se e estruturar-se (hoje são apenas 96), a grande maioria desenvolveu-se com o sentido e o espírito comunitário, que lhes era proposto. Como pensava D. David de Sousa, na Paróquia-Comunidade estaria “o futuro espiritual da Diocese”.
 
Como disse na citada Mensagem Pastoral, a Diocese congratula-se com as celebrações e actividades comemorativas, já programadas e em realização em muitas paróquias, mas não poderia deixar de se congregar em Assembleia Diocesana, para bendizer e dar graças a Deus por tantas bênçãos recebidas ao longo destes 50 anos.
 
Juntos, aqui estamos hoje, nesta Catedral, em Solene Eucaristia, fazendo justa memória do Bispo D. David de Sousa, que pastoreou a nossa Diocese de 1957 a 1965, e lembrando, em especial, as novas paróquias e as outras donde elas foram desmembradas. Muitas desfilaram no longo Cortejo Comemorativo, do Jardim Municipal até aqui, com a participação festiva e activa de todos os Arciprestados, em manifestação pública de fé e comunhão eclesial.
 
Comunidades cristãs vivas
 
Os textos bíblicos, há pouco proclamados como Palavra de Deus para nós, hoje e aqui, apontam para o verdadeiro sentido da Igreja, na vida de cada cristão e da sua missão no mundo. Constituem, sem dúvida, uma referência fundamental para todas as comunidades cristãs, paróquias ou serviços e movimentos apostólicos.
 
O Evangelho, recordando as Bem-Aventuranças, na versão de São Mateus (5,1-12), apresenta o ideal novo que Jesus propõe aos Seus discipulos, àqueles que querem segui-l’O e anunciar o Reino de Deus.
 
Em contraste com muitos dos critérios e valores, generalizados nas sociedades actuais e já daquele tempo, são felizes, bem-aventurados, os que têm um coração pobre e desprendido, aberto a Deus e aos outros; os humildes, os puros de coração, os misericordiosos, os que são solidários e promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça.
 
O próprio Jesus adverte tratar-se de um ideal e projecto de vida que não é fácil: poderá ser objecto de hostilidade e perseguição, mas nem por isso poderá conduzir ao desânimo e ao desalento: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós” (Mt 5, 11). Foi assim no tempo de Jesus e com os mártires dos primeiros tempos, é assim no nosso tempo e será também assim no futuro. O discípulo não é maior do que o Mestre! (cf. Mt 10,24).
 
Vivendo a experiência dos tempos apostólicos, São João contempla a Igreja e vê nela “a morada de Deus com os homens”, habitando no meio deles em Cristo Ressuscitado, que veio para “renovar todas as coisas”, numa tal transformação que suscitará “um novo céu e uma nova terra” (cf. Ap 21, 1-5, na primeira leitura). Um projecto e uma missão de Jesus, confiada por Ele à Igreja, com especial responsabilidade do Colégio dos Apóstolos.
 
E São Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Roma, traduz na segunda leitura, em linguagem clara e concreta, a consciência eclesial e o verdadeiro espírito, que devem caracterizar uma comunidade cristã e apostólica. Com efeito, é fundamental a consciência de que “formamos em Cristo um só corpo e somos membros uns dos outros”, com dons diferentes e animados pelo amor fraterno, para acolhimento e serviço de todos (cf. Rom 12,5-16). Uma grande lição do Apóstolo para os Romanos, uma grande lição para todos nós e para as nossas comunidades cristãs.
 
Algumas interpelações
 
“Paróquia, Igreja em Missão” é o lema escolhido para caracterizar um projecto de comunidade paroquial e diocesana, à luz dos textos agora meditados e segundo o espírito e os documentos do Concílio Vaticano II, que importa reler, assimilar e pôr em prática.
 
Aponta-se, em síntese, para uma Igreja viva, participativa e interventiva, em corresponsabilidade de todos os fiéis, como comunidade alimentada pela Palavra de Deus, centrada na Eucaristia, comprometida na missão evangelizadora, sinal e presença do Amor de Deus no mundo, junto de todos e, em especial, dos mais pobres e carenciados.
 
Daqui ressaltam algumas interrogações e interpelações muito concretas para a renovação das nossas comunidades paroquiais, nesta hora jubilar. Como é importante, valorizar e aperfeiçoar as formas de anúncio e contacto com a Palavra de Deus e todos os meios de aprofundamento e esclarecimento da fé! Pergunta-se: – Nestes aspectos, que poderemos fazer mais, em cada paróquia?
 
Diz-nos o Concílio Vaticano II que a Eucaristia é “fonte e convergência de toda a vida cristã” (Lumen Gentium, 11). Como é importante ter presente esta centralidade da Eucaristia na formação e na participação na vida das comunidades paroquiais! Não será de relançar um especial esforço quanto à participação na Eucaristia Dominical, tornando-a verdadeira festa da nossa fé em Cristo Ressuscitado? A Eucaristia é o centro da vida cristã, seja o centro da nossa vida!
 
O crescente pluralismo cultural e religioso, aliado a uma onda de secularização e indiferença, constitui um cenário que se vai alargando e atingindo muitos dos nossos ambientes, alterando práticas e costumes tradicionais. Cada vez mais a Igreja é chamada a uma nova cultura de evangelização! Como mobilizar as nossas comunidades paroquiais para a missão e acção evangelizadora, na atenção e cuidado por todos os seus membros?
 
Ser comunidade cristã é sentir e promover a comunhão, viver a solidariedade e a fraternidade! – Será que cada paróquia conhece e ajuda aqueles que precisam de conforto espiritual e apoio material, para se erguerem e enfrentarem, com fé e coragem, os caminhos difíceis das suas vidas? Que mais se poderá fazer, na presente situação de crise económica e social?
 
Memória e oração
 
Conscientes de que a Igreja somos todos nós – Bispo, sacerdotes, religiosos (as) e leigos – ao fazermos esta memória da criação das novas paróquias, há 50 anos, elevamos também a Deus a nossa prece agradecida por todos aqueles que, vivos ou falecidos, de algum modo estiveram ligados à concretização do arrojado projecto de D. David de Sousa, empenhando-se na construção das novas igrejas e espaços pastorais, mas sobretudo na edificação de comunidades cristãs vivas.
 
A Diocese do Funchal está em festa! Com a primeira estrofe do Hino preparado para esta comemoração, podemos todos cantar: “Rejubila Povo de Deus, ergue ao alto o teu coração! Paróquia és Bênção dos Céus, de uma Igreja sempre em Missão.”
 
Confiando a alegria e as súplicas deste jubileu aos santos patronos das 96 paróquias da Diocese, dirigimos uma prece especial à Virgem Santa Maria, Padroeira de 49 dessas paróquias e, invocada como Senhora do Monte, também Padroeira da Diocese.
 
A terminar, seja esta a nossa oração filial: Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, nos momentos de dúvida ou de aflição, sois nossa Luz e Consolação! Fazei acontecer em nós um novo Pentecostes, para que as nossas Paróquias, como famílias reunidas em eclesial fraternidade, sejam testemunhas da plenitude da Vida, Comunhão e Unidade!
 
 
Funchal, 30 de Janeiro de 2011
 
† António Carrilho, Bispo do Funchal

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